Monday, June 26, 2006

=Bolinho de Chuva =

Chuva de criança é mais bacana, só que sair de casa é mais difícil. O bom é usar galochas que viram botas espaciais com solas de extra-atrito, saltos propulsores, potente na lama. O cheiro do asfalto molhado (criança de cidade lembra de asfalto molhado e não do cliché da “grama recém cortada”), o trânsito complicado e barulhos diferentes, os guinchos dos freios e o som dos pneus. O rádio do carro do pai dava notícias estranhas e que soavam ruins, mas o quentinho a caminho do colégio dava uma pontinha de saudade de casa.

Mas o pior de tudo é que hoje não vai rolar de brincar na árvore e vão todos se dedicar à socialização masculina nos cantos obscuros da escola – o que inclui humilhar alguém mais fraco, mais tímido ou mais inteligente. E se adulto para sobreviver precisa de experiência, dinheiro e vocabulário, criança não tem nada disso e mesmo assim se vive, e é bom, porquê criança sabe olhar pra um dia de chuva e achar legal que chova. Ninguém sabe aproveitar melhor o tédio que uma criança, e depois que se vira adulto a complexidade dos desejos te deixam inflexível e incapaz de sair de casa sem um cartão de crédito ou de encarar seus tédios. Referencial é tudo mas infeliz de quem acha que seu referencial é regra, por mais perfumada que pareça, e não se conforma em achar errado que jovens têm de envelhecer – mais certo seria que bons jovens não envelhecem.

E, aí, vai de cada um saber apreciar a chuva.

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