Wednesday, June 28, 2006

=Vícios de Jardinagem=

“Morreram todas! TO-DAS!”. Foi por culpa da ganância, só pode ser – tragédias não acontecem de uma vez, mas são milimetricamente desenhadas e se auto-planejam ardilosamente, mais rápido e precisamente que qualquer teoria conspiratória biológica, física ou mecânica. Óbvio que uma ajudinha de um ser humano ansioso, imperfeito e vulgar libera uma energia tremenda para que o evento ocorra mais rapidamente e com toda a crueldade possível. Já era tarde, o dia tinha sido difícil, a noite anterior ainda deixava um resquício de transtorno na sua cabeça e tudo parecia girar rápido, tão rápido que nem pensou quando organizou todo o equipamento da matança. Um assassinato que como a maioria só mostrou como a vida é frágil depois de consumado – não havia sangue, mas o cheiro de morte no ar era inconfundível, ainda que nunca o tivesse sentido antes.

O susto. O desalento. A redenção.

Eis que surge o cliché do matador quase por acaso, aquele que desiste no último segundo mas depois descobre que o que fechou a questão foi o segundo impulso e não o primeiro, a misericórdia inerente ao experiente, mas neste caso uma tolice sem tamanho. Não é de hoje que os mais impuros sofrem com seus atos, só que os ingênuos esclarecidos (também conhecidos como idiotas iluminados) são exímios mestres quando o assunto é causar dano a si mesmo, na mais alta competência e sofisticação, geralmente não danos irreparáveis como a morte – só que neste caso a morte fez seu ato. Fez de conta que não era nada, virou os olhos e não quis ver o tamanho da estupidez e só se deu conta dois dias depois, quando cheiro de amônia lhe feriu as narinas e o resquício de viço nas lindas meninas ainda aparecia, mas se foram como um sopro. O verde queimado das folhas denunciava a agonia rápida, porém cheia de ensinamentos nas entrelinhas – começarão de novo, ah se começarão....

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